Mais de 800 milhões de árvores derrubadas para alimentar o apetite pela carne brasileira — The Bureau of Investigative Journalism (pt
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Publicado em 2 de junho de 2023
Por Andrew Wasley , Elisangela Mendonça , Youssr Youssef , Rob Soutar
O Projeto Bruno e Dom é uma investigação colaborativa coordenada pela Forbidden Stories que envolve mais de 50 jornalistas de 16 meios de comunicação para dar continuidade ao trabalho de Bruno Pereira e Dom Phillips
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Mais de 800 milhões de árvores foram derrubadas na floresta amazônica em apenas seis anos para alimentar o apetite mundial pela carne bovina brasileira, apesar dos terríveis alertas sobre a importância da floresta no combate à crise climática.
Uma investigação baseada em dados do TBIJ, The Guardian, Repórter Brasil e Forbidden Stories mostra a perda sistemática e vasta de floresta ligada à pecuária.
A indústria de carne bovina no Brasil já havia se comprometido a evitar fazendas ligadas ao desmatamento. No entanto, os novos dados revelam que 17.000 quilômetros quadrados da Amazônia foram destruídos perto de frigoríficos que exportam carne bovina em todo o mundo.
A investigação faz parte do Projeto Bruno e Dom do Forbidden Stories. Continua o trabalho de Bruno Pereira, especialista em povos indígenas, e Dom Phillips, jornalista do Guardian, que foram assassinados na Amazônia no ano passado.
O desmatamento em todo o Brasil disparou entre 2019 e 2022 sob o presidente Jair Bolsonaro, sendo a pecuária a principal culpada. A nova administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu conter a destruição.
Pesquisadores da consultoria AidEnvironment usaram imagens de satélite, registros de movimentação de gado e outros dados para calcular a perda florestal entre 2017 e 2022 em milhares de fazendas próximas a mais de 20 matadouros. Todos os frigoríficos eram de propriedade dos três grandes exportadores de carne bovina do Brasil – JBS, Marfrig e Minerva.
Para encontrar as fazendas que provavelmente abasteciam cada matadouro, os pesquisadores analisaram as "zonas de compra"; essas áreas são baseadas em conexões de transporte e outros fatores e, sempre que possível, confirmadas por entrevistas com representantes da fábrica. Todos os frigoríficos exportam internacionalmente, inclusive para a UE, Reino Unido e China, maior comprador mundial de carne bovina brasileira.
A pesquisa se concentrou em frigoríficos nos estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia – importantes fronteiras de desmatamento associado à pecuária. É provável que o número geral de desmatamento nas fazendas que fornecem JBS, Marfrig e Minerva seja maior, porque elas administram outras fábricas em outras partes da Amazônia.
A Nestlé e a empresa alemã de carnes Tönnies, que fornecia para Lidl e Aldi, estavam entre as que compraram dos frigoríficos incluídos no estudo. Dezenas de compradores atacadistas, alguns dos quais abastecem empresas de alimentação que atendem escolas e hospitais, também apareceram na lista de compradores.
A Nestlé disse que dois dos três frigoríficos não fazem parte de sua cadeia de suprimentos e acrescentou: “Podemos examinar as relações comerciais com nossos fornecedores que não desejam ou não conseguem resolver as lacunas em conformidade com nossos padrões”.
Tönnies disse: "Essas empresas brasileiras processam muitos milhares de animais por ano para exportação", e afirmou que não estava claro se a empresa havia recebido produtos de plantas ligadas ao desmatamento.
Lidl e Aldi disseram que pararam de vender carne bovina brasileira em 2021 e 2022, respectivamente.
Visualização de dados bonita e fácil e storytelling
Parte da carne enviada para a UE pode violar novas leis destinadas a combater o desmatamento nas cadeias de abastecimento. Os regulamentos adotados em abril significam que os produtos trazidos para a UE não podem ser vinculados a nenhum desmatamento ocorrido após dezembro de 2020.